Lendo o Jornal da Manhã deste domingo me deparei com um artigo muito interessante que falava sobre as marchinhas de carnaval. Como é rico em detalhes, tomei a liberdade de editá-lo neste espaço, com o crédito do autor, para a apreciação de meus leitores.
Mozart Lacerda Filho (*)
Estimado leitor, houve um tempo em que o carnaval – festividade que está se aproximando – não se limitava a tocar as enfadonhas músicas baianas e congêneres; as marchinhas dominavam a cena. Perdoe-me aqueles que apreciam o carnaval de hoje, mas não abro mão das velhas músicas, que, infelizmente, não são mais tocadas, senão em raríssimas e honrosas ocasiões.
Da ascensão e do declínio do gênero carnavalesco tratarei noutra ocasião. Hoje, quero comentar algumas marchinhas que se tornaram verdadeiros clássicos, para que, de alguma forma, não as deixemos morrer.
Começarei pela composição da maestrina Chiquinha Gonzaga Ô Abre Alas, de 1899, considerada a primeira marcha feita exclusivamente para o carnaval. Segundo alguns autores, a composição teria sido feita a pedido de alguns componentes do Cordão Rosa de Ouro. Outros afirmam que a compositora deu acabamento a antigas canções folclóricas, cantadas em rodas. OÔ Abre Alas, quando era executada, incendiava imediatamente o salão. fato é que
Joubert de Carvalho, músico uberabense, compôs Pra Você Gostar de Mim (Ta-hi), gravada por Carmem Miranda em 1930 em vinil de 78 rpm. O Ta-hi não estava na letra original, e foi acrescentado posteriormente. Joubert de Carvalho já havia composto algumas outras canções. Mas, ao apostar na iniciante Carmem Miranda, teve seu talento reconhecido nacionalmente, uma vez que o disco vendeu 35.000 cópias em apenas um mês.
Em 1932, o carioca Lamartine Babo compôs Linda Morena e o sucesso foi tal que, três meses depois, estreava no teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, o show homônimo, que bateria recordes de bilheteria. Segundo algumas fontes, essa foi a música que inspirou o compositor Braguinha a escrever, mais tarde, os versos de Linda Lourinha, outro clássico indiscutível do gênero carnavalesco.
Do mesmo Braguinha, mas em parceria com Noel Rosa, Pastorinhas representou uma guinada nos rumos que as marchas estavam seguindo. De ritmo mais lento, inaugurou o estilo marcha-rancho, inspirado na cadência do Rancho das Pastoras, que desfilava sempre no Dia de Reis, no Rio de Janeiro.
Jararaca e Vicente Paiva lançam, em 1936, um dos ícones dos bailes de salão. Não há um único folião que não cante de cor Mamãe Eu Quero. A marchinha surgiu numa época em que o gênero se firmava definitivamente como um dos ritmos carnavalescos por excelência. O tom irônico, humorístico e malicioso agradou em cheio aos amantes das marchinhas.
Graças a uma interpretação primorosa de Orlando Silva, o cantor das multidões, A Jardineira, marcha de origem bastante discutida, obteve o segundo lugar no concurso carnavalesco promovido pela prefeitura do Rio de Janeiro,or Orlando Silva, a marchinha também fez sucesso no cinema, sendo a principal canção do filme Banana da Terra, lançado no ano segu em 1938, e foi eleita a preferida dos foliões. Interpretada de novo pinte.
No carnaval de 1941, Aurora, de Mário Lago e Roberto Roberti, ganhou extrema popularidade, tanto nas ruas quanto nos salões. Interessante observar que a letra (Se você fosse sincera / ô, ô, ô, Aurora / veja só que bom que era / ô, ô, ô, Aurora / Um lindo apartamento / Com porteiro e elevador / E ar refrigerado para os dias de calor / Madame antes do nome / Você teria agora) expressa um dos mais antigos dilemas do comportamento humano: a mulher infiel, que perde sua condição de pessoa séria e, consequentemente, se vê obrigada a abrir mão de algumas mordomias.
Evidentemente, há muitas outras marchinhas que mereceriam estar arroladas acima e acho que um segundo artigo, ao menos, se faz necessário. Aguardem.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus; mozart.lacerda@uol.com.br